Os dias e as coisas
Compartilho com os visitantes radioativos este belo poema do amigo João Miguel Henriques. Este poema, que abre o seu novo livro "Também a memória é algum conhecimento" (Lumme editor, 2009), me tocou sobremaneira e parece falar diretamente de um episódio recente em minha vida. Eu diria que é mais um daqueles poemas que eu gostaria de ter escrito. Aproveitem.
Tu habitavas os dias
tu habitavas os dias como se o tempo te pertencesse
ratificavas com o teu esgar secreto
os meus membros sobre o teu peito
os meus gestos
a minha inteira existência
eras nesse tempo a própria perífrase da vida
dizer-te, o teu nome violento,
era o mesmo que afirmar:
a minha vida (e depois
por aí fora sobre tudo o que quisesse)
para além de ti, quero eu dizer,
sem a tua presença de água nos olhos
era nessa altura impensável
encarar a sucessão das horas
a possibilidade sequer
de haver respiração
ou pensamento
mas depois deixaste de habitar os dias
(daí, em parte, estas palavras)
e eu sigo (mal) existindo
e respirando, ainda que a custo
depois da angústia,
a perplexidade
2 comentários:
bonito poema =]
Muito bom, este poema do João :) Parabéns a ele e obrigado a ti por o teres partilhado aqui.
Postar um comentário