Dois poemas de João Rasteiro


DEZEMBRO

Tem sol adentro tem a voz semente,
como se a sílaba pudesse desassombrar a luz
o cheiro espesso e biófilo das coisas esquecidas
bocas como abóbadas sitiando as luminárias
no eixo do relâmpago os rebentos viçosos
perfumes de todos os bálsamos de Jerusalém
vozes em silício dentro do rosto das águas
a paixão do fogo numa última saudação ao sol.


SEI QUE O SILÊNCIO MORDE

Sei que o silêncio morde
no agonismo da pele a pele
agride a garganta
nos nódulos dos pulmões
os pulmões desafiam o ar
nas margens do sangue,

no branco imenso das sílabas
há só um infinito espaço branco
no rizoma gélido de silêncios
que perfuram os dedos como anzóis,

a geometria da morte sob as pedras.

1 comentários:

Anônimo disse...

Também por aqui...apesar de tudo não deixo de ficar um pouco surpreso. Começa a ter asas!
Filipe Castro

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