Poesia x Política
Durante o Festival Internacional de Poesia de Roterdã, conheci um poeta palestino que, meses antes, havia cancelado sua participação em um evento na França, por este ter em sua programação o escritor israelense Moshe Sakal. Najwan Darwish recusa abertamente dividir qualquer evento com um israelense. Anos atrás, em 2007, eu tinha me deparado com uma situação semelhante: no Encontro Internacional de Poetas de Coimbra, a poeta palestina Faiha Abdulhadi e o poeta israelense Yitzhak Laor sequer se falaram. O que pode parecer a nós uma arbitrariedade é algo muito mais profundo e não pode ser reduzido a mera "xenofobia palestina" (como Marcos Guterman escreveu no Estado de São Paulo). Este caminho escolhido – não à toa – por ambos os poetas palestinos que conheci é uma forma de protesto radical que tem os seus motivos de ser baseados em feridas profundas – mas não de um passado recente ou distante, e sim feridas que estão sendo abertas agora. Durante os dias em Roterdã, convivi com um Najwan tenso e sempre na defensiva quando conversava. Com o decorrer do festival, foi relaxando e, no último dia, acabou saindo para beber com alguns brasileiros. Foi quando ele pôde nos esclarecer um pouco de como a banda toca por lá, na "Palestina ocupada" (termo que ele usou para me corrigir quando mencionei a palavra Israel), com o cotidiano de humilhação e segregação do seu povo – que ele descreveu como um pesadelo existencial permanente. Para ilustrar, nos contou que viver ali era como estar sob um governo totalitário e repressor aplicado somente a uma parte da população. Isso para não mencionar a faixa de gaza, que foi relegada a terra de ninguém por um muro e onde o contato com o mundo exterior é sujeito a risco de vida. Enfim, esse contato com Najwan me fez querer conhecer um pouco mais sobre a situação da Palestina e tentar entender como se chegou a isso. Foi assim que descobri o documentário abaixo. Apesar de não ser exatamente sobre o conflito em Israel (ou Palestina ocupada), esclarece como (alguns) setores judaicos vêm justificando ideologicamente, aos olhos do mundo, o seu "direito" à fundação de Israel – e lucrando com isso. Lembro que é um documentário feito por judeus e que todos os entrevistados são judeus e que, portanto, estaria livre de qualquer tendenciosidade inspirada pela "xenofobia palestina". Vale a pena uma vista de olhos.
1 comentários:
Muito bom.
Um abraço aqui de Budapeste.
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