É poeta quem faz a riqueza de si mesmo e de sua época

Com muito orgulho, fui citado pelo (polêmico) poeta Régis Bonviccino, em entrevista à Gazeta do Povo, o maior jornal do Paraná e um dos mais importantes do Brasil. Outros poetas que admiro, como Antonio Cícero e Victor Paes, também foram citados. Não é todo dia que nosso trabalho é reconhecido publicamente por grandes personalidades. Fico muito lisonjeado e agradecido.


Reproduzo, abaixo, a entrevista:


Régis Bonvicino, de 55 anos, é apontado pelos críticos como um dos mais importantes poetas brasileiros. Alcir Pécora, professor de Teoria Literária na Unicamp, que não costuma elogiar autores contemporâneos nas resenha que publica na Folha de S.Paulo, afirma que Página Órfã, que Bonvicino publicou em 2006, “é excelente”. A Imprensa Oficial do Estado de São Paulo editou, ano passado, Até Agora, obra de 560 páginas que reúne os dez livros de poemas que o poeta publicou desde a sua estreia, em 1975.

O senhor é um poeta com uma trajetória. Durante esses mais de 30 anos, houve períodos em que a poesia teve mais espaço?
Ainda bem que sustentei por 35 anos uma trajetória, não? Já vi tantos tombarem pelo caminho. Houve períodos mais ricos, anos 1970, 1990 e mesmo os anos 1980, comparados com o que há hoje – a era da banalização da poesia, feita por amadores, por verdadeiros idiotas. É o clichê: precisa aprender a tocar Mozart, precisa aprender a tocar o piano. Mas esse empobrecimento é brasileiro. A cultura brasileira é aberta ao mundo pop, mas a literatura é fechada, e isso é estimulado pela crítica nacionalista predominante. Existem, entretanto, poesias muito ativas e com excelentes poetas: Bei Dao, na China; Charles Bernstein e muitos outros, nos EUA; na França, Edgar Pou; e Cristino Bogado, no Paraguai; no Chile etc. Existe hoje uma ditadura do “subjetivo”, que sucedeu à ditadura das tradições, e ela levou a essa poesia confessional brasileira, ao egocentrismo amador etc. Não é poeta quem se considera – ao contrário do que pregava Leminski. Mas é o poeta quem faz a riqueza de si mesmo e de sua época.
Poesia vende?
A rejeição à poesia é um fato que reputo muito interessante, positivo. Um dos componentes dessa rejeição é o clichê: “Poesia não vende”. Arte precisa ser rejeitada.
Quem lê poesia hoje?
Por favor, pergunte a Walt Disney isso. Não há leitores de prosa também – os prosadores ganham prêmios, entretanto não são lidos. O Brasil tem uma educação sucateada; é um dos piores países no que diz respeito à interpretação de textos. Está entre os dez piores do mundo. As faculdades de Letras rejeitam a poesia in totum. Que bom! Preferem estudar autores autorizados pelo mercado internacional. Há um quadro de ignorância generalizado.
É difícil publicar poesia?
É muito difícil. Não temos um mercado capitalista mas um “mercado de estado” ou temos aqueles inúmeros selos de aluguel. Vergonha. Vergonha de quem paga para publicar em tal ou qual selo, para tal ou qual editora.
Os seus livros de poesia foram editados todos por editoras ou o senhor bancou alguns deles? Já ganhou dinheiro com poesia?
Tive sempre editores, exceto para os três primeiros livrinhos; nesses, informei: edição do autor. Já ganhei um pouco de dinheiro com poesia, mas não dá para pagar as contas de modo nenhum. Nunca.
Há poetas brasileiros recentes que o senhor admira?
Não acho que existam “poetas jovens”. Existem poetas. Sim: Douglas Diegues, Sérgio Medeiros, Márcio-André, Victor Paes, Luis Dolhnikoff, Ronald Augusto, Josely Vianna Baptista, embora ela esteja calada demais para o meu temperamento, Felipe Fortuna, Antonio Cícero e outros que não me vêm à mente agora. Algumas coisas do Gullar, do Pignatari e do Augusto de Campos.
Qual a sua opinião sobre o cânone que aponta como bons poetas Drummond, Bandeira, João Cabral e outros poucos?
Cânone é uma coisa para historiador literário, coisa também de “mercado”, para jornalista. Melhor-pior é coisa de mercado. Prefiro ler livremente todos os poetas. Prefiro Murilo Mendes a Manuel Bandeira, por exemplo. Murilo é muito avançado, inovador, excelente. Drummond é muito desigual: tem as melhores coisas do mundo e as piores. João Cabral de Melo Neto é o meu preferido.
Poesia é dom?
É dom, transpiração e inspiração. Mas se quiser, pode adquirir esse dom. Só houve um Rimbaud.
O que é poesia?
Se soubesse, parava de escrever, porque escrever é indagar “O que é poesia?”.

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