Monsanto


toda cidade é esboço dela mesma
ou labirinto móvel para cães

e de tanto haver coisas sempre nos adequamos a ser outro:
a cidade contém dentro três outras cidades
que nunca se tocam

e somatizam nos habitantes: até deformá-los

mas o pôr do sol é sempre esse
desde o principio do sol e do estado das coisas

o pôr do sol que se ama como latão velho
e tudo o mais é variação de pedra

nesta cidade onde até o deus é de granito
e tem sonhos de pedra

com fêmeas mortais num jardim de areia e pedra

convém fugir da cidade antes que a velhice chegue
pois também as coisas perecem mais rápido do que podemos perceber

aqui cada dia é um dia

é preciso partir antes que chegue outro
[um pé de tangerinas à esquerda na estrada]

e é triste notar que nada permanece de nosso
antes mesmo que não estejamos mais aqui

Márcio-André

4 comentários:

Tania Montandon disse...

Bela fotografia poética da vivência e do lugar! Deu até pra sentir a saudade chegando antes da partida =D

Aproveite bem!

beijos

Victor Paes disse...

É sempre uma esperança renovada nas coisas ler você...

Fábio Gullo disse...

Márcio, p poesia, poesia:


quis escrever um poema

que despertasse em ti a eterna tristeza

quis escrever um poema

que representasse para ti a eterna tristeza

quis escrever um poema

que fosse em si a eterna tristeza



acho que não consegui

mas não tem problema



talvez, todos os poemas

Francisco Norega disse...

Gostei do poema ;)

Transmite sublimemente o ambiente de Monsanto!

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